quinta-feira, 18 de março de 2010

Curtinhas para rir (ou chorar)!

por Danival Dias ( * )
EU TAMBÉM QUERO VOAR
O governador da Bahia, quando vem a Camaçari, seja para participar da “eleição” do presidente do seu partido, seja para inaugurar ampliação de hospital, só chega de helicóptero. Nem ele tem coragem de encarar os engarrafamentos da Paralela e os 18 quilômetros da “Via parafuso”. Eu que sou peão passo por lá todo dia para ir trabalhar e de vez em sempre tem acidente com morte...

DOAÇÃO DE VIATURAS (OBA!)
Falando em governador, o carinho com a cidade que ele vota e que já foi até candidato a prefeito é tão grande que das 1.200 (mil e duzentas) viaturas adquiridas, Camaçari recebeu UMA, para não ficar chupando dedo! Temos uma população estimada de 250 mil habitantes, com extensão territorial de 760 km² divididos entre a sede do município e os distritos (maior em território até do que a capital) e nos mandam somente UMA viatura?

OBA OBA INSTITUCIONAL
Ainda sobre a viatura, tão constrangedor quanto ter recebido apenas UMA, foi a nota expedida pela comunicação do governo municipal, com o título “Camaçari recebe viatura do governo do estado” (disponível em: http://migre.me/pulQ). A gente fica feliz com o teor da matéria, mas quando descobre que foi APENAS UMA, dá vontade até de chorar!

ABANDONO NO CENTRO DA CIDADE
Caminhando pelas ruas da Nova Vitória, no centro, parece que nem estamos na cidade mais rica do estado, cujos jardins, numa metáfora que faço, deveriam brotar “uvas e peras” e as fontes luminosas “jorrarem coca-cola”! Muita sujeira, ruas com lama, sem pavimentação ou coleta de lixo. Enquanto isso nos bairros ditos “nobres”, tudo lindo, ou pelo menos bem maquiado.

CONCURSOS DO LEGISLATIVO E EXECUTIVO
Pegou muito mal essa da Câmara fazer a prova do concurso no mesmo dia da prova da Prefeitura. Compartilho da mesma opinião do Professor Valdívio Pardal, de que provas no mesmo dia, cerceiam o cidadão de concorrer aos dois poderes! Quantas casas legislativas de todo o Brasil fazem suas provas independente? Os poderes no Brasil não são distintos? Em Camaçari não!

TODO MUNDO DO PARTIDO DA ESTRELA
Eu que achava que quando o Governo Federal, Estadual e Municipal fossem todos da mesma corrente política, estaríamos no paraíso. Ledo engano... Do jeito que andam conduzindo as coisas nas três esferas de governo, daqui a pouco vamos sentir saudade até de “malvadeza”, já que esses que estão aí hoje são tão maus quanto o antigo “dono da Bahia” (ou até piores, já que muitos se fazem de santo mas são demônios – vide mensalão, caso Celso Daniel, e escândalos mil envolvendo a turma da “estrela vermelha”).

OPOSIÇÃO E CONTROLE SOCIAL
Pela tristeza em ter descoberto que “todo mundo do mesmo lado” gera um estado de palidez e descaso, é que considero de EXTREMA IMPORTANCIA a existência de uma oposição RESPONSÁVEL. Acompanhamento e controle externo dos poderes pode ser feito tanto por quem recebe um mandato, quanto pelo povo mesmo, por meio das ferramentas de CONTROLE SOCIAL. O povo não tem noção do poder que tem, principalmente nos dias de hoje, que as informações sobre os governos estão ao alcance do mouse... PENSEM NISSO!

"Meu ideal político é a democracia, para que todo homem seja respeitado como indivíduo e nenhum venerado." (Albert Einstein)

"Há quem chegue às maiores alturas só para cometer as maiores baixezas." (Ayres Brito, Ministro do STF)

( * ) Danival Dias é camaçariense apaixonado por sua terra e tem o umbigo enterrado (literalmente) onde hoje funciona o legislativo municipal. danival.dias@gmail.com [mail], danivaldias@hotmail.com [msn], www.twitter.com/danivaldias

domingo, 7 de março de 2010

‘Beber, cair e levantar’

Durante a minha adolescência eu já estudava a noite. Toda a minha turma do ginásio do Colégio Polivalente de Camaçari foi estudar o nível médio (naquela época, segundo grau) no José de Freitas Mascarenhas a tarde e eu, como precisava trabalhar e havia sido aprovado no processo seletivo para ‘Menor Aprendiz’ do Banco do Brasil, então com 15 anos, fui para o São Thomaz de Cantuária fazer o curso Técnico em Contabilidade, onde fiquei de 1992 à 1994. Lembro-me até hoje do meu primeiro dia de aula, nos fundos do colégio, em salas improvisadas, feitas de madeira e telhas de amianto, que os alunos veteranos apelidaram de ‘galinheiro’. Logo depois fomos transferidos para uma extensão do São Thomaz, no então recém-construído Colégio Normal de Camaçari, que ficava ao lado, onde permanecemos nos dois anos seguintes, até retornarmos para concluir o terceiro ano no próprio São Thomaz.

No primeiro ano do curso técnico, com apenas 15 anos de idade, me sentia deslocado no meio de colegas bem mais velhos do que eu, pois estava longe dos que haviam estudado todo o ginásio, mas para minha sorte, meu desconforto terminou com a chegada para estudar comigo, do meu vizinho de infância e amigo/irmão, graças a Deus até hoje, Joselito dos Anjos Miranda Júnior, que tem a mesma idade que eu. Com o tempo e já familiarizado com o ambiente até então estranho, adquiri calorosas e queridas amizades, algumas das quais também mantenho até hoje. Saíamos da aula às 22:00 horas, do centro em direção ao Ponto Certo sempre caminhando (sim, transporte em Camaçari desde essa época era difícil), sem medo e relativamente tranqüilos, pois a violência naquela época era muitíssimo menor do que a de hoje (sim, em Camaçari até bem pouco tempo era possível andar pelas ruas após as 22:00 horas!).

Nesse ponto da leitura, muitos devem estar se perguntando o que o título deste texto (‘Beber, cair e levantar’) tem a ver com o que escrevi até agora, mas eu explico, é que recentemente numa ‘manifestação’ estudantil que passou pela frente do meu local de trabalho, no centro da cidade, vi estudantes secundaristas com 15, 16 anos, atrás de um carro de som gritando palavra de ordem, dançando, cantando e... CONSUMINDO BEBIDA ALCOOLICA! Muitos também fumavam cigarros e outros já se encontravam num estado que nem deveriam saber o porquê de estarem ali... Vendo aqueles jovens, literalmente se auto-destruindo, não teve como não fazer um paralelo com o tempo que eu tinha a idade deles e já trabalhava e estudava a noite, numa época em que a oferta de cursos, trabalhos e estágios em Camaçari era quase nenhuma; as poucas (inclusive a oportunidade que tive para fazer o teste para o Banco do Brasil no qual fui aprovado) eram viabilizadas pela Casa da Criança e do Adolescente ou pela Secretaria de Ação Social, onde fiz o inimaginável para os jovens de hoje, curso de datilografia!

Na minha época, eu e meus colegas, pelo menos os que eram da mesma faixa etária (dos 15 aos 17 anos), jamais faltamos a aula para irmos a um bar; também nunca levamos bebida ou qualquer outro tipo de droga para dentro da escola e para falar a verdade, a primeira vez que me lembro de ter ingerido álcool (cerveja) em ‘grandes proporções’ como a turma do colégio anda fazendo hoje, eu já era maior de idade e já havia sido aprovado em primeiro lugar para a única vaga para da minha função, no concurso público do órgão em que trabalho até hoje; tinha apenas 18 anos! Para muitos, a bebida alcoólica que é lícita, mas também é DROGA, acaba sendo o trampolim para a maconha, cocaína, êxtase, crack e todo tipo de porcaria cujo consumo e toda sujeira que envolve sua produção e venda (tráfico) dizima famílias, mata pessoas, ceifa oportunidades e alicerça o clima de violência e insegurança que vivemos hoje em todo o país.

Recentemente me chamou à atenção a organização por jovens, em sua maioria, de uma ‘marcha’, pedindo a liberação de determinado tipo de DROGA e pesquisando descobri que o tal movimento possui site na internet onde eles sugerem seus ideais e até vendem camisetas e adesivos. Confesso que vibrei com a decisão da justiça em proibir a realização do evento em Salvador e outras cidades do país, afinal, por que não usar todo esse ‘poder de mobilização’ realizando as tais ‘marchas’, por exemplo, ‘pela moralização na política’, ‘contra o desvio de recursos públicos’, ‘contra o nepotismo no serviço público’, ‘pela redução da carga tributária’, ‘contra a prostituição infantil’, ‘para arrecadação de donativos às Obras Assistenciais de Irmã Dulce’? Fica aqui a minha sugestão!

Camaçari agora dispõe de CETEB (escola técnica estadual), CEFET (escola técnica federal), SENAI (escola técnica mantida pela indústria), UNEB (universidade estadual), CIEE e ANIMA (centros de intermediação para a contratação de estagiários de nível médio e superior), bolsa auxílio universitária mantida pela prefeitura, Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) que dá acesso às bolsas de estudo do Governo Federal de até 100% do valor das mensalidades em faculdades particulares, além de ônibus gratuito para as faculdades de Salvador, Lauro de Freitas e Simões Filho (CEFET), entre tantas outras benesses que não existiam para os estudantes secundaristas de pouco mais de 14 anos atrás...

Infelizmente, mesmo com todas as oportunidades à mão, ainda há uma parcela considerável de jovens que ao invés de ESTUDAR e TRABALHAR, parafraseando o título uma musica infame, que a despeito das pérolas produzidas por Luiz Gonzaga dizem ser forró, preferem e acham certo, ‘Beber, cair e levantar’.

Danival Dias
danival.dias@gmail.com [mail]
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Publicado originalmente em 19/06/2008 no jornal Camaçari Notícias, disponível em http://www.camacarinoticias.com.br/leitura.php?id=36985

30 anos do Pólo Petroquímico, eu e você fora da festa!

Semana passada, acessando o jornal Camaçari Notícias, li uma matéria intitulada “Memorial 30 anos do Pólo Industrial será implantado em junho” e fiquei logo curioso e entusiasmado, pois, quem me conhece sabe, sou bairrista assumido, apaixonado por minha terra e tudo que a ela se refere logo me chama a atenção. A notícia, assinada pela Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Camaçari no início é animadora, informando que em junho próximo a cidade ganha um mais do que justo memorial sobre os 30 anos do maior complexo industrial integrado da América do Sul.

Fala ainda da realização na cidade de um seminário sobre qualificação profissional e da recuperação das vias de acesso ao Pólo que estão abandonadas a muitos anos, pondo em risco a vida de chefes de família que vão em busca do pão de cada dia. Como camaçariense, tomar conhecimento de todas essas informações me deixou muito feliz, o que não durou muito tempo, pois, ler os dois últimos parágrafos, os quais abaixo eu transcrevo, foi desolador:

“A programação comemorativa aos 30 anos do pólo começa oficialmente dia 26 de junho, com a apresentação especial da cantora Maria Bethânia, acompanhada pela orquestra sinfônica da Bahia, no teatro Castro Alves. Na manhã do dia seguinte, acontece a inauguração da segunda linha de produção da Bahia Pulp.

À tarde, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, junto com o governador Jaques Wagner, abre o Fórum Empresarial-Pólo 30 anos, no hotel Bahia Othon Palace. Um grande show com Armandinho Macedo e a orquestra sinfônica da Bahia, dia 29, encerra a programação."

O Pólo é em CAMAÇARI, mas as “pomposas” comemorações com a presença do Presidente da República, Governador do Estado, shows de Bethânia, Armandinho e Orquestra Sinfônica da Bahia serão em Salvador, no Teatro Castro Alves e no Bahia Othon Palace, onde 99,9 % dos mais 200.000 habitantes daqui não terão acesso. Uma pena!

Como filho de um dos milhares de trabalhadores que derramaram seu suor, empenhando sua força de trabalho na construção do complexo petroquímico, fico muitíssimo triste com essa pseudo-comemoração aos 30 anos do pólo. Em data tão importante o COFIC/POLO deveria voltar-se mais para o desenvolvimento da terra que os abriga: CAMAÇARI, que a exceção da arrecadação de impostos que fica por aqui (e esta somente porque ainda não há como transferirem para Salvador), sempre foi deixada de lado pelas iniciativas do complexo...

O preconceito com Camaçari e a seu povo já começa pelo acesso aos melhores cargos, pois, dificilmente processos seletivos para as boas vagas nas grandes empresas do Pólo são sequer divulgadas na cidade e quando alguém daqui fica sabendo e ousa-se a participar, tem que mudar o endereço no currículo dizendo que mora em Salvador. A nós, restam as “bocas” (vagas) nas “gatas” (terceirizadas) durante as “paradas” (das máquinas para manutenção).

O Pólo Petroquímico não é em Camaçari, então por que não se comemora tudo em Camaçari? Melhor seria se a matéria “Memorial 30 anos do Pólo Industrial será implantado em junho”, terminasse da seguinte forma:

“A programação comemorativa aos 30 anos do pólo começa oficialmente dia 26 de junho, com a apresentação especial dos cantores PAULO CARRILHO, CAROL ASSEMANY E NADJA MEIRELLES, acompanhados pela BAMUCA, no TEATRO DA CIDADE DO SABER PROFESSOR RAYMUNDO PINHEIRO. Na manhã do dia seguinte, acontece a inauguração da segunda linha de produção da Bahia Pulp.

À tarde, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, junto com o governador Jaques Wagner, abre o Fórum Empresarial-Pólo 30 anos, no RESORT, LOCALIZADO NO DISTRITO DE ITACIMIRIM, EM CAMAÇARI. Um grande show com ARTISTAS LOCAIS e a FILARMONICA 28 DE SETEMBRO, dia 29, encerra a programação EM PALCO MONTADO NA PRAÇA ABRANTES.”

Ou até que se mantivesse a programação com os mesmos artistas, mas que fosse realizada aqui, afinal nós, que recebemos o ÔNUS da poluição, do trânsito engarrafado na Via-Parafuso e centro da cidade, da superpopulação com crescimento desordenado de favelas também merecemos esse BÔNUS de termos os shows de Maria Bethânia, OSBA e Armandinho Macedo realizados em nossa amada cidade.

Danival Dias
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Publicado originalmente em 07/02/2008 no jornal Camaçari Notícias, disponível em http://www.camacarinoticias.com.br/leitura.php?id=28416

Final de tarde (imundo) em Arempepe...

Brisa do mar, água de coco, pôr do sol, disposição para esperar o cair da noite e em frente a Igreja de São Francisco é forte o mau cheiro da urina. Olhar para a frente das barracas logo depois de um dia movimentado de sol não é uma das melhores cenas. Que pena! Copos e sacos plásticos, garrafas pet, papel, cascas de coco e pombos transmissores de doenças são a triste paisagem.

Na manhã do dia seguinte passa a limpeza pública e começam a chegar os banhistas, alguns, sem demonstrar nenhum zelo à natureza tornarão a jogar lixo no chão, outros, por falta de onde fazê-lo, já que não existem sanitários públicos em Arembepe, também voltarão a urinar na praça e aquele mau cheiro insuportável jamais se dissipará...

Bem, mas se a limpeza pública só vem na manhã do dia seguinte, durante a noite, quando a maré sobe, onde vão parar os dejetos jogados na areia? No mar, é claro! Por que os próprios barraqueiros, após o término do expediente, não vão em mutirão limpar a praia que lhes garante o sustento? Por que o próprio banhista não cuida do cantinho de paraíso que foi posto a sua disposição? Vai entender a cabeça do povo.

Naquela tarde eu estava em Arembepe, mas logo entrei em pânico pensando no restante do belo litoral camaçariense, que vai de Busca Vida à Itacimirim. Para quem acha que a natureza sem cuidados é eterna, olhem o que aconteceu com o Rio Tietê em São Paulo, ou melhor, aqui pertinho, lembrem-se do antes Rio Camaçari, hoje córrego fétido e cheio de dejetos. Se não cuidar acaba. Se não cuidar fica só a lembrança do que um dia já foi bonito. Pobres peixes, tartarugas marinhas, pobre mar, pobre de nós que pagaremos caro pelo descaso com o planeta!

Danival Dias
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Publicado originalmente em 20/02/2008 no jornal Camaçari Notícias, disponível em http://www.camacarinoticias.com.br/leitura.php?id=29307

Medo de polícia

Certa vez estive na belíssima Aracaju, capital do estado de Sergipe para passar um reveillon e eis que durante a festa e no meio daquela multidão de pessoas, senti alguém batendo de leve no meu ombro e me pedindo licença para passar. Ao me virar, fiquei pasmo, pois, quem me acabara de me pedir LICENÇA era uma guarnição da Polícia Militar sergipana! Aquela cena, para eu, pobre baiano acostumado a nem poder olhar direito para os “todo poderosos” daqui (toca-los então nem pensar sob o risco de tomar uma “cacetetada”) simplesmente não acreditava no que ainda veria se repetir inúmeras vezes durante toda noite...

Nos eventos de grande concentração de pessoas aqui na Bahia, principalmente em festas, quem é que nunca tomou uma “cutucada de cacetete” ou foi “tirado da frente” de maneira hostil só porque estava DE COSTAS “na hora errada e no lugar errado”, bem no caminho da guarnição dos “todo poderosos”? E as abordagens constrangedoras? Certa vez fui “corrigido” na companhia de mais três amigos, todos eles professores, na porta da casa de um deles, às 2 da tarde, onde um dos “todo poderosos” nos ordenou que segurássemos com as duas mãos nos galhos de uma pequena árvore a nossa frente e que olhássemos para cima: “Quem olhar para baixo vai ver só”, bradou!

É fato que de fevereiro de 1825, quando foi criada por D. Pedro I até os dias atuais são inegáveis os mais que relevantes serviços que a instituição Polícia Militar da Bahia presta a todo o seu povo! O que seria das nossas vidas sem a existência dos bravos guerreiros do Corpo de Bombeiros, do Grupamento Salvar, da Polícia Rodoviária Estadual, dos Grupamentos Especiais e todos os demais? Nossa polícia chega inclusive a “exportar” seu know-how para as polícias de outros estados, já que é a responsável por manter a segurança no evento de maior concentração de pessoas do mundo, que segundo o Guinness Book é o carnaval de Salvador.

Tenho amigos e conhecidos da mais completa retidão que fazem parte da corporação, de praças a oficiais; gente honrada, honesta, comprometida com sua atividade e que está nela por vocação! Mas porque uma pequena banda podre insiste em manchar o nome de uma instituição tão importante, quase bicentenária? Porque hostilizar o cidadão de bem, que por dever legal, como determina a Constituição Federal deve ser protegido? Como destratar, bater e humilhar quem por meio de tantos impostos literalmente, PAGA O SEU SALÁRIO?

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Publicado originalmente em 13/07/2009 no jornal Camaçari Notícias, disponível em http://www.camacarinoticias.com.br/leitura.php?id=59106

Léo Kret também merece respeito

Li uma “crônica” publicada numa revista local, fazendo referência à eleição do travesti LEO KRET à Câmara Municipal de Salvador, assinada por uma aspirante a jornalista – ainda estudante – que me causou sensações que variaram do espanto à preocupação. O texto, preconceituoso ao extremo, foi criticado por todos os presentes em uma das salas de debates de um fórum nacional que participei, e que assim como eu, na hora do intervalo folheavam a revista, cortesia junto ao material de apoio.

A jovem inicia dizendo que “tive que ter um pouco de cuidado para não escrever nada muito ofensivo”, como se para ofensa houvesse intensidade! Ofender, seja muita ou pouca a sua motivação, trata-se de ato desrespeitoso e que não deve ser praticado sob nenhuma hipótese por ninguém, principalmente por uma estudante universitária.

Ela atribui o status de “a última novidade sobre política” ao fato de um homossexual assumido ter conseguido vaga no legislativo, algo que não é inédito, haja vista que na última eleição para a Câmara Federal, o apresentador Clodovil Hernandes (falecido), também homossexual, sagrou-se vencedor como um dos Deputados mais votados pelo Estado de São Paulo.

Sem nenhuma espécie de pudor, respeito e principalmente amor ao próximo, a estudante classifica como “aquilo”, pura e simplesmente por causa da opção sexual do vereador eleito, um cidadão apto perante a lei – senão não teria concorrido – que venceu uma eleição legitimamente por meio da vontade soberana do povo, conforme garantem os princípios da democracia que fazem parte da Constituição Federal, direitos esses relativamente recentes, e que foram conquistados a custo de muita luta - e muitas vidas também, ressalte-se!

Ainda segundo ela, quem votou em LEO KRET supostamente “desperdiçou” o voto, elegendo “pessoas tão excêntricas”. Afirma ainda que, “Kret vai ganhar uma bagatela para ficar desfilando modelos de terminhos femininos (com nome masculino no RG, o que é contra a lei)” (sic).

Diante dos absurdos, fiquei me fazendo muitas perguntas para tentar compreender de onde essa moça tirou tanta bobagem. Afinal, desde quando excentricidade é sinônimo de incompetência política? Qual é a lei que diz que travestir-se de mulher é crime? Leo Kret não irá bem no exercício da vereança só porque é gay? Se ainda nem assumiu, quais os critérios para sugerir que Leo Kret não fará um bom mandato? Dentre os 41 vereadores eleitos na capital baiana, 16 são novatos, mas será que somente Leo Kret não está preparada?

A exceção justamente de LEO KRET, alguns dos eleitos ou reeleitos à Câmara de Salvador, possuem fichas sujas na justiça e estão sendo investigados pelo Ministério Público, alguns por terem tido suas contas rejeitadas pelos órgãos de controle, outros porque são acusados do desvio de recursos, verbas de gabinete e afins, o que não rendeu sequer uma linha na crônica da jovem estudante.

Portanto, se for mensaleiro, grampeador de telefones, assassino, forasteiro ou comprovadamente corrupto, pode ser eleito tranqüilamente, mas se for gay, não pode! Na cidade de Cruz das Almas/BA, foi eleito um catador de papel, em São Paulo o cantor e apresentador Netinho de Paula, em Goiânia o jogador de futebol do Vila Nova, Túlio Maravilha e em nada que li ou assisti sobre suas vitórias, os vi sendo chamados de incompetentes por antecipação por conta de um mandato que sequer iniciaram.

Mesmo não sendo seu eleitor, já que voto em Camaçari, ao contrário de muitos eu torço para que o mandato de LEO KRET seja um sucesso, como foi sua expressiva votação. Desta maneira, ganha Salvador, ganha o Estado e de certa forma, ganhamos também eu e você, povo, afinal, LEO KRET será bancada com dinheiro público, que pertence a todos nós... Torcer contra por si só já beira a insanidade, ainda mais pelos motivos apresentados!

O espanto e preocupação a que me referi logo no início, advêm do fato que LEO KRET está sendo crucificada e sumariamente julgada justamente por quem tem acesso aos difíceis bancos da academia, cuja formação, lhe habilitará num futuro próximo, justamente a ser mais uma formadora de opinião entre a sociedade. O que esperar do futuro, se age desta forma preconceituosa, hostil e demasiadamente desrespeitosa, justamente quem tem acesso a uma faculdade, que historicamente falando são centros de formação de conhecimento e cidadania?

Danival Dias
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Publicado originalmente em 17/11/2008 no jornal Camaçari Notícias, disponível em http://www.camacarinoticias.com.br/leitura.php?id=46165

Saudade de Antônio Melo

Meus amigos costumam fazer graça comigo, insinuando que pelo fato de ser funcionário público eu supostamente “não faço nada”, puro folclore, já que pertenço à classe de trabalhadores que ingressaram no serviço público por meio de concurso e que não “caíram de para quedas” na repartição. Não sou apadrinhado político e para receber meu pagamento no final do mês, tenho que comparecer ao serviço todos os dias, como faço há quase quinze anos! E tem mais, nem sempre minhas atividades remuneradas foram exercidas como hoje, numa simpática sala com computador e ar-condicionado...

Outro dia no centro da cidade, vi um garoto caminhando ao lado de um senhor que usava óculos e bengala, segurando-o pelo braço, o que me fez lembrar de minha própria infância e daquilo que viria a ser o início de minha carreira profissional. Quase ninguém sabe, mas meu primeiro emprego foi na antiga feira de Camaçari, que nem de longe lembra o 'moderno centro comercial' de hoje. Eu vendia coco seco numa banquinha de madeira, em frente à loja da Cesta do Povo, entre o açougue e a ala dos caranguejos e frutos do mar.

Todos os sábados, acordava às 6:30 da manhã, vestia uma calça jeans de listras pretas compradas na “Casa Rosângela” do saudoso “Seu” Lopes, uma camisa colorida de botões brancos e gola vermelha e seguia para o ponto do ônibus da Justiça do Trabalho, para esperar o dono da banca juntamente com a mercadoria, que vinha acondicionada em grandes sacos plásticos daqueles de açúcar, levados à feira de carrinho de mão.

Meu empregador se chamava Antônio ou Tonho, como era mais conhecido. Homem negro, baixo, magro e dono de uma personalidade ímpar. Cresceu como irmão de minha mãe e meus tios no distrito camaçariense de Jordão, mais precisamente na Fazenda Bom Jardim, onde todos nasceram. Na lida com ele, quando acabava o expediente, sempre antes das 14:00 horas, quando tinha que tomar o ônibus de volta para casa, todos os cocos já tinham sido vendidos às clientes já cativas e eu sempre voltava para casa contente com alguns trocados no bolso, cuja metade ficava logo numa banca de revistas no meio do caminho, onde comprava figurinhas de skate para colar no caderno e me entupia de sorvetes da Kibon.

Lá onde Tonho morava, ainda no Jordão, só que já na localidade chamada de Coqueiro, não tinha energia elétrica, água enganada, rede de esgoto ou pavimentação. Ainda assim ele vivia tranqüilo em sua casa construída ao lado de onde moravam sua mãe e seu padastro. Depois de um período ele deixou a banca de vendas na feira e voltou a negociar seus produtos no atacado ao mesmo tempo em que montou um pequeno comércio, e na comunidade onde não se tinha nada, ele vendia de quase tudo: carne seca, farinha, açúcar, feijão, arroz...

Quando não estava negociando na feira de Camaçari ou não estava em seu comércio, ainda desenvolvia outra atividade e era contratado pelos donos de terra da região para subir nos coqueiros, principalmente a noite para arrancar os frutos e limpar as árvores para a próxima colheita. Era também autodidata na viola e até compunha sambas de roda, com os quais ele mesmo se divertia ao cantá-los. Gostava de ouvir rádio e sabia qual era a programação de cada estação AM ou FM da Bahia. Era também bastante supersticioso e um az na matemática, mesmo sem ter ido à escola somava, multiplicava e dividia como ninguém, tudo de cabeça!

Toda a sua disposição para o trabalho e a peculiaridade das tarefas que ele exercia, passariam completamente despercebidas se não fosse por um detalhe: TONHO NASCERA CEGO DOS DOIS OLHOS! Ele nunca viu a luz do sol ou os lindos frutos dos cajueiros, jaqueiras e mangueiras que rodeavam o seu lar. Sequer teve a oportunidade de contemplar um fim de tarde naquele lugar tão bonito... Acontece que a deficiência nunca o impediu de viver, e quando ele deixou a venda de cocos no varejo eu não fiquei “desempregado”, passei a lhe emprestar durante um bom tempo os meus olhos. Ia com ele ao banco, ao supermercado e principalmente à feira, onde era sempre muito divertido ouvi-lo dizendo a mim que queria comprar camisas azuis, sem nuca sequer ter visto a cor azul! Vaidoso, gostava muito de perfumes e uma de nossas últimas conversas foi justamente ele me perguntando qual era o meu, pois tinha gostado e ia comprar um do mesmo.

Já mais velho, enveredei-me em outras atividades e Tonho passou a escalar garotos da própria comunidade onde morava para auxiliá-lo em seus negócios, gente que ele ajudava como a um filho, já que nunca foi pai ou se casou. Sempre que vinha à cidade, passava por minha casa para trazer produtos da roça para minha mãe, por quem ele sempre manteve verdadeira devoção e admiração.

Recuperando-se de problemas de saúde, chegou a morar conosco durante quase dois anos, e mesmo já o conhecendo desde criança, ainda ficava impressionado com sua habilidade para andar por toda a casa sem se bater com os móveis e pela forma como gostava de conversar consigo mesmo quando não tinha ninguém por perto. Costumava agir como se enxergasse e soltava pérolas, dizendo se a pessoa estava mais bonita aquele dia, só de ouvir a voz.

Na madrugada de 20 de setembro de 2006, dia do aniversário de 50 anos de minha mãe, Antônio da Conceição Melo, o nosso querido “Tonho Cego” (esse era seu apelido completo), faleceu. Partiu com mais de 60 anos e muitas histórias. Naquela manhã foi a última vez que vi os seus olhos, desta vez fechados para sempre. Seu coração doente não resistiu e perdeu a guerra que ele mantivera por toda a vida contra o maldito, mas lícito álcool.


Danival Dias





Publicado originalmente em 26/09/2008 no jornal Camaçari Notícias, disponível em http://www.camacarinoticias.com.br/leitura.php?id=42951

Visitas indispensáveis

Cada um de nós, pelo menos uma vez na vida, deveria visitar um hospital, um manicômio, um orfanato e um cemitério... Dentro desses lugares, dá para fazer uma estimulante reflexão sobre como cuidar de nossa vida, inclusive descobrindo em alguns casos, que não estamos tão ruins quanto imaginamos ou que ainda dá tempo (e sempre dá) para melhorar...

O hospital serviria para vermos como é bom poder andar, falar, respirar, escrever, comer, escovar os dentes e até sentar no vaso sanitário, atividade simples mas que tem gente enferma que não consegue fazer sozinha. Lá, sentiríamos na alma o quanto é fantástico gozar de plena saúde;

No manicômio, perceberíamos como é maravilhoso dispor de todas as faculdades mentais, ser independente, livre e a satisfação de sermos donos de nossas próprias ações. Lá, nos daríamos conta de que nossas “mentes brilhantes” podem desaparecer numa fração de segundos com perdas e danos irreversíveis;

O orfanato nos traz a fragilidade e a dor da ausência de algo que a maioria de nós temos e não valorizamos que são os nossos pais, filhos, amigos, família... Aquela criança abandonada à sua própria sorte poderia ter sido eu ou você; e

Finalmente, de todos os lugares em que sugeri, por motivos óbvios, o mais tranqüilo é o cemitério. Ir até lá, olhar ao redor, tanger as moscas que pousam em nossos ombros, sentir o cheiro forte de carne podre dos corpos em decomposição e ouvir o ruído da pedra fechando a sepultura com o cimento e depois (se for o caso) a terra sendo jogada por cima do caixão, traz à realidade quem se acha melhor do que as outras pessoas. Facilita a compreensão de que sejamos da favela ou de Alphaville, da escola pública ou particular, garis ou executivos, pretos, brancos, azuis ou amarelos, todos um dia teremos o mesmo destino, e para lá não levaremos a vaidade exacerbada ou o carro zero que acabamos de comprar e que tanto nos exibimos aos outros...

Acredito que para tornar os dias melhores, basta ter determinação e disposição, o que não envolve a necessidade do gasto de grandes quantias ou a realização de tarefas exageradamente audaciosas, como tanta gente imagina. Começo sendo bacana com as pessoas a meu redor, tratando-os como gostaria de ser tratado, criando assim uma redoma de bem querer que me protege dos maus!

Sou otimista e tenho certeza que o pessimismo conspira contra meus objetivos, e além de não ajudar ainda atrapalha. Comemoro tudo que consigo agradecendo e acreditando em Deus, mas sem deixar exclusivamente em suas mãos as responsabilidades que são minhas, para depois não ficar me lamentando dizendo que “foi Deus que quis assim” sem ter feito a minha parte!

Danival Dias
danival.dias@gmail.com [mail]
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Publicado originalmente em 11/11/2008 no jornal Camaçari Notícias, disponível em http://www.camacarinoticias.com.br/leitura.php?id=45954